Quatro sinais de que seu médico confia em você; e por que isso é importante
Cuidar da saúde é muito mais do que ir ao médico. Achar que basta agendar uma consulta e sentar passivamente diante de um iluminado capaz de dar todas as respostas é meio caminho andado para se dar mal.
Não faz mais sentido (se é que um dia fez) esperar que os profissionais de saúde tenham solução para tudo. Manter a saúde e tratar a doença é, cada vez mais, um processo colaborativo. A confiança precisa ser mútua e reafirmada a cada novo encontro.
Com o aumento das doenças crônicas, o vínculo entre os médicos e seus pacientes se torna ainda mais importante. O doente e as famílias precisam confiar no médico e ter a certeza de que podem contar com ele. O médico precisa confiar no paciente e ter a certeza de que ele está, de fato, disposto a seguir as orientações e o tratamento.
Médico não pode ser babá de paciente que não faz nada para se ajudar. Paciente não pode ser para-raios das frustrações dos profissionais.
Saber ouvir e confiar
A confiança mútua é tão fundamental quanto transformadora. Um relatório da Academia Nacional de Medicina destacou o potencial da tomada de decisão compartilhada e do envolvimento da família na melhoria dos resultados de saúde.
Esse fato foi destacado por David Meyers, da Agência de Pesquisa e Qualidade em Saúde, e colegas em um artigo publicado recentemente no Journal of the American Medical Association (JAMA).
Muitas pesquisas buscam avaliar o grau de confiança dos pacientes em seus médicos. O que o artigo de Meyers tem de interessante é o olhar para o outro lado da relação. Os autores defendem a ideia de que os médicos precisam confiar mais em seus pacientes.
Segundo eles, a falta de atenção ao relato dos pacientes costuma ser a primeira manifestação de que a confiança é baixa ou inexistente. Os autores mencionam um estudo realizado nos Estados Unidos com 66 médicos experientes. Em 112 encontros, eles passaram apenas 11 segundos, em média, antes de interromper a primeira fala do paciente.
Mal a pessoa começava a explicar o que estava sentindo e lá vinha o corte. Isso pode fazer com que o doente se sinta inibido, perca a linha de raciocínio ou receba o comentário como uma bordoada verbal.
Mesmo quando não há rispidez envolvida, a interrupção precoce não é uma boa ideia. "Muitos médicos começam a construir um modelo mental de problemas e a criar planos de diagnóstico sem o benefício da contribuição do paciente", escrevem os autores.
O pedestal da perfeição
Quando confiam apenas no próprio conhecimento, eles perdem a chance de ouvir contribuições valiosas que só os pacientes podem trazer. "Os pacientes são especialistas em suas próprias experiências e no contexto em que elas ocorrem. Essas narrativas têm valor diagnóstico", ressaltam Meyers e seus colegas. Um exemplo: as descrições feitas por um paciente podem levar o médico a distinguir uma convulsão epiléptica de episódios que podem ser convulsões não-epilépticas.
Ouvir atentamente e demonstrar confiança pode fazer com que os médicos produzam diagnósticos precisos e ampliem as chances de cura. Ou até fazer com que os profissionais se sintam mais felizes com a prática da medicina. "Confiar nos pacientes pode ajudar os médicos a abandonar o pedestal imaginário da perfeição, um padrão que contribui para a insatisfação e os sintomas de burnout", escrevem os autores.
No artigo, Meyers e colegas sugerem estratégias que os médicos podem usar para demonstrar confiança aos pacientes. Preparei uma adaptação das dicas para ajudá-lo a perceber se o seu médico confia em você:
Presta atenção aos detalhes
Se o seu médico mantém contato visual e demonstra genuíno interesse pela sua história de vida e pelo seu relato, esse é um ótimo começo. Bons profissionais costumam mesclar a escuta bem feita com perguntas que trazem dados relevantes para o diagnóstico inicial e para o tratamento. Se o médico compartilha abertamente o que ele sabe e reconhece os limites de seu próprio conhecimento e da ciência médica, melhor ainda.
Não se deixa levar por preconceitos
Todos nós corremos o risco de sermos enganados por nossos próprios preconceitos. Muitas vezes esses vieses ocorrem de forma inconsciente. Achamos que não temos preconceito algum, mas, lá no fundo da mente, eles existem e nos levam a fazer julgamentos errados. Os médicos que se esforçam para não chegar a conclusões precipitadas com base em preconceitos — relacionados à aparência, classe social ou outros – correm menos risco de fazer comentários depreciativos que podem acabar com a confiança que os pacientes precisam depositar neles.
Não decide sozinho
Médico que demonstra confiança costuma planejar o tratamento com o paciente – e não para o paciente. O profissional deixa claro que confia nas habilidades do doente e coloca a cooperação no centro do relacionamento. Perguntas simples como "o que você espera do tratamento?" ou "quais são as suas preocupações?" valorizam essa parceria e levam a escolhas mais condizentes com a realidade do indivíduo.
Aceita os valores do paciente e reconhece seus esforços
Pessoas com doenças crônicas precisam sentir que têm um vínculo verdadeiro com os profissionais de saúde. Os médicos demonstram confiança quando são capazes de entender os valores dos doentes e o engajamento deles na criação conjunta do plano de tratamento e na adesão a ele.
"Quando o fundamento para a confiança mútua é efetivamente estabelecido, a cura pode começar", acreditam os autores. Faz sentido?
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