Existe vida além do celular: o detox digital de um jornalista de tecnologia

Crédito: iStock
Celular é um negócio tão cheio de facilidades que só os fortes conseguem resistir às garras dele. Sem o aparelho ao alcance dos olhos e das mãos, a sensação é a de estar perdendo alguma coisa muito importante no palco da interação digital. E estamos mesmo. Quase sempre, o que perdemos é a vida que existe fora do retângulo mágico.
Reconhecer os primeiros sinais de uso exagero ou dependência de celular nem sempre é fácil. O jornalista Kevin Roose, colunista de tecnologia e negócios do The New York Times, não achava que estava exatamente viciado, mas resolveu tomar uma atitude antes que o mau uso da tecnologia dominasse sua vida.
Quem nunca?
É interessante observar que os primeiros sinais de problemas relatados por ele em uma reportagem publicada recentemente no jornal são absolutamente corriqueiros.
Quem nunca se sentiu incapaz de ler um livro, assistir a filmes inteiros ou ter longas conversas ininterruptas, sem mexer no celular? Ou se viu navegando, meio sem pensar, pelas redes sociais. E, ao final de horas, tudo o que colheu foi raiva e ansiedade?
Nem os espaços digitais que Kevin considerava calmantes (podcasts, YouTube etc) pareciam ajudar. Sozinho, ele tentou vários truques para reduzir o tempo de uso (como evitar o Twitter nos finais de semana e instalar bloqueadores nos aplicativos).
O desafio do detox
Quando as estatísticas revelaram que, em um só dia, ele pegou o aparelho 101 vezes e gastou 5 horas e 37 minutos com isso, Kevin percebeu que precisava de ajuda. Decidiu procurar a colega Catherine Price, autora do livro "How to Break Up With Your Phone", lançado no Brasil com o título "Celular: Como Dar um Tempo" (Fontanar, 176 páginas).
Durante um mês, Kevin encarou o desafio de fazer um detox digital guiado por ela. Algo não muito simples para um jornalista de tecnologia que, por obrigação profissional, não pode se desligar das notícias e tendências nem deixar de acompanhar o que acontece no mundo digital.
Como dar um tempo
No livro, Catherine detalha um plano de 30 dias para se livrar da ansiedade e retomar a vida ao estabelecer uma relação mais saudável com o celular. Organizei aqui algumas das principais dicas:
1) Reflita sobre a relação
Durante um ou dois dias, preste atenção na forma como você usa o celular. O que sente antes de pegar o aparelho? E depois? Está feliz, raivoso, esgotado, se sente dependente?
2) Controle o tempo
Quanto tempo você passa em redes sociais e aplicativos? É assim mesmo que você pretendia usar esse tempo? É difícil voltar a se concentrar em outras coisas depois de largar o aparelho?
3) Observe o motivo da urgência
Na hora em que sentir a necessidade de espiar o celular, tente entender por que precisa ser naquele exato momento. Que tipo de emoção você espera sentir ao navegar pelo mundo digital?
4) Crie um aviso
Vale colocar um elástico em torno do aparelho ou criar uma pergunta provocativa na tela de bloqueio. Qualquer coisa que o leve a refletir se precisa, mesmo, checar o celular naquela hora
5) Considere deletar algumas redes sociais
Elas são as responsáveis pela maior parte do tempo gasto no mundo digital. Sem os aplicativos instalados no celular, a quantidade de horas empregadas nisso cai drasticamente
6) Mude o lugar onde recarrega o aparelho
Se deixá-lo no quarto, o risco de cair na tentação de espiar o celular à noite é elevado – o que apenas prejudica a qualidade do sono. Se precisar de um despertador, compre um. Sai mais barato do que perder horas de sono de boa qualidade e ter menos energia no dia seguinte
7) Encontre coisa melhor para fazer
Que tal largar um pouco o celular e dedicar o tempo a outras atividades e interesses? Não deixe de observar, depois, como você se sentiu.
Viva o tédio
O guia é simples (quase óbvio), mas, para Kevin parece ter sido útil. Depois de 30 dias de experiência, ele relatou um grande progresso. As horas gastas com o aparelho caíram de cinco para uma. Em vez de 100 vezes, Kevin mexeu no celular apenas 20. Continuou trabalhando como sempre, mas sem perder tempo com distrações sugadoras de energia.
Ele conta que não deixou de amar o universo mediado pela tecnologia, mas abriu espaço para voltar a se encantar com o mundo físico. "O mundo onde há lugar para o tédio, mãos ociosas e espaço para pensar", escreveu ele. "Pela primeira vez, depois de muito tempo, estou começando a me sentir como um humano novamente". Isso não é pouco.
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