Como será o Natal dos gêmeos que ganharam corações novos em 2019
Nos últimos dias, a maranhense Mila Miranda Costa, 36 anos, caprichou nos bordados. O novo ofício ela aprendeu na associação Casa do Coração (ACTC), em São Paulo, durante os meses em que esperou por algo próximo do impossível: a doação de dois corações para seus filhos gêmeos.
E não é que, em 2019, o extraordinário aconteceu? Em um ano difícil para a maioria dos brasileiros, a família encontrou fortes razões para agradecer e comemorar. Não só um, mas os dois irmãos conseguiram passar por um transplante cardíaco. "Recebemos uma enxurrada de bençãos", diz Mila.
O primeiro dos irmãos a encontrar um doador foi Enzo. Em março, tive a rara oportunidade de acompanhar o transplante no centro cirúrgico do Instituto do Coração (InCor) e de revelar a história dos gêmeos de 2 anos, com exclusividade, aqui no UOL VivaBem. O relato completo marcou a estreia deste blog.
A doença
Em um caso inédito na história do InCor e sem registro semelhante no Brasil, os gêmeos nasceram com a mesma doença, desenvolveram sintomas simultaneamente e foram inscritos na fila do transplante.
Chamada de cardiomiopatia dilatada, a doença enfraquece o músculo cardíaco. O coração perde a capacidade de bombear o sangue adequadamente.
Sem oxigênio e nutrientes circulando pelo organismo, os bebês sofriam com falta de ar, cansaço e dificuldades de ganho de peso. Quando a doença se agrava, o transplante é o último recurso.
Os sapecas
Depois de dois meses de recuperação no hospital, Enzo voltou para casa. Maio foi um mês difícil para a família. Enquanto ele começava a redescobrir um corpinho sem limitações, Benjamim seguia o caminho inverso. Cada dia mais pálido e sem fôlego para correr atrás do irmão.
Metade de Mila se alegrava com os progressos de Enzo. A outra metade sofria com a decadência de Benjamim. Até que, em agosto, o telefone tocou. Havia surgido um doador. Pela segunda vez, a família seria contemplada. O transplante, realizado pela equipe do cirurgião Marcelo Jatene, foi um sucesso.
Passados os primeiros meses de recuperação, o que se ouve na casa de Mila é a farra dos dois sapecas. Os irmãos correm, brincam, brigam e disputam a atenção dos adultos. Estão aprendendo as primeiras palavras e, no ano que vem, a família pretende matriculá-los em uma escolinha na mesma rua.
O Natal
Este é o primeiro Natal que os gêmeos passam com saúde. Na família católica, a celebração será completa. "Antes da ceia, vamos à Santa Missa", diz Mila. A árvore de Natal foi uma descoberta para os meninos. Mila colocava uma bolinha, Enzo tirava outra. Benjamim revirava o pisca-pisca e o Papai Noel. No meio da bagunça, ele dava sinais de que será o mais falante.
A família que saiu de Imperatriz, no Maranhão, para tentar salvar os filhos em São Paulo, decidiu morar na cidade para estar perto do InCor e seguir cumprindo o acompanhamento médico que os gêmeos precisarão receber nos próximos anos. "A equipe do hospital é uma família para nós. O que conhecemos ali foi muito além do profissionalismo", diz Mila.
A gratidão
Os bordados que ela aprendeu a fazer durante a temporada em que morou na Casa do Coração viraram fonte de renda. Em 2020, Mila pretende vendê-los em um ateliê. Por enquanto, a vitrine dos produtos é o Instagram.
Em vermelho sangue, ela bordou cinco mãos. Duas pequeninas e, ao redor delas, outras duas maiores. Embaixo, como suporte de tudo, há outra mão. É a de Maria, mãe de Mila, que largou tudo em Imperatriz para cuidar da filha e dos netos em São Paulo. Um apoio incondicional, sem o qual esta história poderia ter sido outra. Em cada uma das mãos, bate um coração.
A maior delas é a do eletricista Deivid, pai dos gêmeos. Ele mandou trazer o carro do Maranhão para se virar em São Paulo como motorista de aplicativo. Guiado pelo Waze, se aventura pela cidade desconhecida que soube acolher a família.
"Nós, que tínhamos tanto medo de São Paulo, vimos aqui uma rede de solidariedade se formar ao nosso redor", diz a mãe dos gêmeos.
A gratidão de Mila também é minha. Muito obrigada a todos que, nos últimos nove meses, ajudaram este blog a respirar. Sou muito grata pela audiência, pelos comentários, críticas, sugestões e parcerias ilimitadas que me permitiram contar dezenas de histórias. Desejo a todos uma vida boa e plena, cheia de paz e saúde. Boas festas e até 2020.
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