Que tal um site para comparar o desempenho de hospitais? Na Colômbia já tem
É mais fácil escapar do labirinto do Minotauro sem novelo do que descobrir, com alguma segurança, se um hospital trabalha direito. Indicadores de qualidade e rankings de desempenho divulgados publicamente existem aos montes nas mais variadas atividades. É possível comparar restaurantes, hotéis, empresas de telefonia, escolas e muito mais, antes de tomar qualquer decisão de consumo.
Pagamos a conta da saúde pública e privada, mas no escuro. Nesse campo, tudo é um mistério. Mitologia grega sussurrada em linguagem cifrada apenas para iniciados. Assim se perpetuam lendas criadas ao sabor de práticas e códigos fossilizados.
Para conforto dos que resistem a mudanças, muitos dos sistemas de informação não se comunicam e, portanto, não geram dados comparáveis. Não sei até quando os clientes das empresas de saúde e os cidadãos que sustentam o Sistema Único de Saúde (SUS) seguirão tolerando falta de transparência em uma área em que ela pode ser a diferença entre a vida e a morte.
É preciso avançar –e muito. É possível avançar, como demonstra o lançamento de uma plataforma que permite a qualquer cidadão comparar a qualidade dos hospitais públicos da…Colômbia.
É, meu caro leitor, ainda não será desta vez que terei o prazer de anunciar uma iniciativa semelhante no Brasil, mas espero que a solução dos nossos vizinhos nos sirva de inspiração ou de discussão.
Sinal vermelho
Na semana passada, o Ministério da Saúde e Proteção Social da Colômbia apresentou um aplicativo web por meio do qual os cidadãos podem acompanhar a evolução dos resultados obtidos pelos hospitais públicos a cada trimestre.
A avaliação é baseada em 24 indicadores de saúde e de gestão. A ferramenta também apresenta dados de saúde pública referentes aos territórios em que os hospitais estão localizados. A plataforma faz parte do programa AI Hospital (Ação Integral em Hospitais). Segundo o governo federal, o objetivo é melhorar a transparência, o acesso e a qualidade dos serviços.
A visualização das informações é simples. A classificação dos hospitais é feita pelas cores do semáforo. Basta clicar sobre um mapa ou usar a ferramenta de busca para ver se a instituição está na faixa de melhor desempenho (verde), na intermediária (amarela) ou na pior (vermelho).
Um exemplo: quem buscar informações sobre o Hospital Universitario Del Caribe, em Cartagena, verá que ele recebeu nota baixa e um sinal vermelho. Para classificar as instituições, são utilizados indicadores como:
- tempo de espera para realização de consulta de clínica geral
- tempo de espera para atendimento em serviços de urgência
- proporção de partos por cesárea
- taxa de mortalidade perinatal
- equilíbrio operacional entre receitas e despesas etc
Transparência faz bem à saúde
Depois de experimentar a plataforma, fiquei pensando o quanto um serviço semelhante poderia ser útil aos brasileiros. Pode-se discutir a adequação dos critérios e a confiabilidade de quem se encarregar de fazer as avaliações, mas todo ganho de transparência no setor de saúde é altamente desejável.
No momento em que a Câmara começa a discutir propostas de reforma do SUS, creio que vale a pena refletir sobre o impacto que iniciativas de transparência poderiam ter na melhoria de gestão do sistema.
Segundo a mais recente análise do Banco Mundial, há um espaço significativo para tornar o gasto com saúde no Brasil mais eficiente, particularmente no nível hospitalar. De acordo com a instituição, "os serviços hospitalares e de diagnóstico estão distribuídos de forma desigual e muitas vezes são pequenos demais para operar com eficiência e garantir qualidade".
A conta vai explodir
A avaliação constante do desempenho das instituições é fundamental para melhorar a gestão dos recursos. Conforme ressalta o Banco Mundial, "mantidas as atuais tendências de aumento nominal do gasto público com saúde no Brasil, as despesas com o SUS atingirão R$ 700 bilhões em 2030".
A instituição ressalta que esse cálculo não leva em conta o envelhecimento da população, o aumento das doenças crônicas e a incorporação de novas tecnologias. Ou seja: a conta vai explodir.
Mais do que nunca, os cidadãos que financiam o SUS, o mais importante programa social do Brasil, precisam saber quem faz bom uso do dinheiro público e o transforma em saúde. Na medicina privada, a necessidade de transparência é igualmente urgente.
Em vez de pirotecnia, que tal um semáforo básico para começar?
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